Então isso era a felicidade.
De início se sentiu vazia.
Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor por essa vida mortal a assassinava docemente aos poucos.
E o que é que se faz quando se fica feliz?
Que faço da felicidade?
Que faço dessa paz estranha e aguda que já está começando a me doer como uma angústia e como um grande silêncio?
A quem dou minha felicidade que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta.
Não, ela não queria ser feliz.
Por medo de entrar num terreno desconhecido.
Preferia a mediocridade de uma vida que ela conhecia.
Depois procurou rir para disfarçar a terrível e fatal escolha.
E pensou com falso ar de brincadeira: “Ser feliz? Deus dá nozes a quem não tem dentes.”
Mas não conseguiu achar graça.
Estava triste, pensativa.
Ia voltar para a morte diária.
Clarice Lispector in Aprendendo a Viver
Resmungado por C.
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